terça-feira, março 20, 2012

Obesidade, história e psicologia (por Julio Rezende)



            A compreensão do homem hoje só é completa ao se compreender o ser humano historicamente. Ao observar o homem na história, observa-se que biologicamente o ser humano se desenveu convivendo com o cerceamento alimentício e com a necessidade de correr e percorrer grandes distâncias em busca de alimento, sustento, conquista de novos territórios ou fuga de povos conquistadores.
            O ser humano antes da idade industrial, comia pouco. Em tempos pré-históricos o ser humano sempre teve que conviver com pequenas porções de comida que eram distribuídas pelo proveor no contexto da família e dependente da proteína animal enquanto fonte de energia.
            Biologicamente, o tempo entre a época antiga e a contemporaneidade não foi suficiente para o ser humano se adaptar a uma situação na qual a sociedade moderna possui uma grande disponibilidade de alimento. Esse é um dos importantes fatores que fez com que a obesidade se tornasse o principal problema de saúde pública na atualidade. Somado a isso destaca-se a mudança de comportamentos e modalidades de trabalho que demandam a necessidade de pouca atividade física a partir do uso dos computadores pessoais que configuram a obesidade enquanto uma epidemia. De acordo com essa perspectiva, para ser magro o ser humano deveria se acostumar a se alimentar com apenas uma porção, isto é: um prato de comida. Nada mais simples do que isso. O desenvolvimento de uma condição de obesidade se relaciona a ter disponível uma quantidade enorme de alimentos como nas situações do almoço de domingo em família. Se essa oferta de alimento nas refeições for enorme todos os dias, a obesidade será quase uma consequência certa.
            Culturalmente, para alguns, e inconscientemente, a obesidade pode estar relacionado ao desejo de expressar poder em transcender uma condição biológica. Está-se a dizer: "eu tenho condições financeiras de consumir muitos alimentos. Isso é um indicativo que eu posso prover conforto a uma parceira(o)". Em sociedades mais "modernas" ser magro é status, pois indivíduo pode expressar: "tenho educação e conhecimentos para ter uma alimentação saudável".
            Independente das diferentes interpretações culturais e distintos entendimentos, existe um desafio a nos condicionarmos a comermos pouco. Do que adianta alguém fazer uma cirurgia bariátrica e não estar sensibilizado em precisar se alimentar pouco? Além disso, a alimentação em excesso apresenta uma implicação relacionada à sustentabilidade, pois quando compramos muitos alimentamos expressaremos um comportamento de maior desperdício, maior descarte de embalagens plásticas e metais e geração de mais poluição do meio ambiente. Quando compramos mais alimentos estamos mais propensos em desperdiçar alimentos que possuem um prazo de validade pequeno.
            Finalmente, observaria que a obesidade possui um importante componente psicológico. Comemos muito algumas vezes para lidar com ansiedade e estresse, ou simplesmente por prazer. Desse modo, não deveríamos estar mais conscientes de nossas emoções? Uma importante recomendação para lidar com isso seria a meditação. Se estivermos mais conscientes de nossas motivações poderemos tomar decisões melhores sobre alimentação e saúde.   

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