15 de julho de 2010: emocionei-me com a inauguração da Casa do Bem. Como alguém movimenta milhares de pessoas em torno de algo sem que possua nenhum interesse político? Tudo enquanto uma profunda expressão altruísta?
Algo que me impressiona são fotos e mais fotos que expressam em cada: uma experiência, uma alegria, uma realização, uma vitória. Imagino o bem a quantas pessoas Flávio Rezende fez.
Observar tudo isso incomoda a mim mesmo como alguém materialista e é então, nessa circunstância, que percebo que existem tantos com tão pouco. Isso incomoda a mim em meu próprio egoísmo.
Em uma foto, uma criança degusta um delicioso almoço em um hotel da Via Costeira; em outra uma criança expressa felicidade por passear de bugre nas dunas de Genipabu. Qual delas poderia experienciar coisas tão maravilhosas em um período de tempo tão cedo em suas vidas? Pois se em uma condição normal estariam fadadas a esperar a sorte de suas próprias vidas atadas às condições sociais e econômicas como são?
Ao alguém experienciar a realização de algo que se imagina ser distante se toma consciência que se pode fazer tudo.
Propiciar experiências é gerar empoderamento para o outro. Nessas circunstâncias se está incluindo essas pessoas identificando nelas a chama da vitória, o poder que cada uma possui.
Na inauguração da Casa do Bem o prédio foi invadido por centenas de crianças e jovens. No local foram distribuídos alimentos que haviam sido doados. Os alimentos foram disputados arroaceiramente. Não porque são famintos, mas porque faz parte da experiência aproveitar tudo o que o mundo dá neste momento. É como se dissessem: “vamos lá, vamos aproveitar tudo o que merecemos!” É assim! Tudo isso é uma festa. Vamos comemorar. Pois o mundo é em verdade assim: providente e amoroso. E então tudo isso está expresso agora e é por isso que ficamos tão eufóricos e irracionais, como se tudo fosse e é realmente alegria.
Os pés que andaram as ruas sujaram os corredores e salas. Mãos sujas de saldados, refrigerantes e doces sujaram algumas paredes. Mas, no próximo dia tudo estará limpo e ficaram as memórias boas desta noite.
Subi as escadas e ao andar no primeiro andar, encontrei uma sala com 16 ou 20 computadores. Por elevada curiosidade, entrei e comecei a observar o comportamento de crianças e jovens usando o computador. Algumas crianças usavam o computador sem ao menos se saber o propósito daquilo, o que aquelas máquinas poderiam propiciar. Apesar de estarem sentadas em frente a um computador isso não significa que soubessem essas máquina.
Comparando o uso que faço da internet, a forma como realizo minhas buscas de informação e conhecimento, com a maneira como essas crianças e jovens o fazem identifico uma grande distância. Percebo que, com base em minha experiência pessoal, por já ter trabalhado com o tema da inclusão digital, essas crianças precisam de orientação sobre o uso da internet. À medida que permaneci naquele local, para algumas crianças que lá estavam, não restava dúvida: eu era o professor. Então começaram: “professor, esse menino já está a muito tempo (no computador)!”, “professor, quando é minha vez?”, “professor...”. Pensei: “reconheceram-me!”. Naquela circunstância percebi que não podia mais ser apenas meramente um observador, como estava sendo. Era necessário a mim um outro comportamento: uma atuação. Era necessário fazer-me participante: interagindo; respondendo perguntas; mediando tempos de uso de cada computador; explicando como acessar o Orkut; como acessar jogos nos computadores; dizer quem terminou o tempo; dar explicações sobre problemas no acesso.
Ao observar essa breve experiência, percebo as carências que essas crianças possuem, pois rapidamente reconheceram em mim um professor, um tutor. É como se dissessem: nos ensine! Nos ajude! Colabore na mudança de minha vida! Colabore em algo! Dai-me esperança! Diga-me que posso construir um futuro melhor para mim!
Sobre esse negócio de internet sei um pouco e às vezes imagino que o que sei todos já sabem. Mas então, vou a um lugar de pessoas carentes como Mãe Luiza e identifico que existem muitos que valorizariam o que tenho a dizer e que minhas palavras poderiam fazer uma diferença em suas vidas. Esse é o espírito da Casa do Bem: estimular que pessoas compartilhem conhecimentos teóricos ou práticos, havendo assim a inclusão digital, social e econômica. Desse modo, questiono qual é o saber que você tem? Algo que você é bom que poderia compartilhar com outras pessoas?
Finalmente um outro aspecto que me chamou a atenção: que modelo é esse que tanta gente mete a mão, que cada um assume responsabilidades que mais as apraz? Como funciona esta liderança na qual não se deixa consumir pela vaidade e na qual todos o que participam mais diretamente da iniciativa encontram oportunidade, reconhecimento e respeito? A Casa do Bem tem muito a ensinar. Tudo expressa-se como um desejo não apenas de Flávio em fazer o bem, mas de dar oportunidade a outras pessoas de também encontrarem um lugar, um meio de também praticar o amor e crescerem enquanto pessoas.
Desse modo, em vista de tudo o que expus, percebo que quinta-feira foi uma noite especial para mim. Espero que também tenha sido transformante para outras pessoas. E você de que modo você espera expressar amor ao mundo?
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