O pichador. Ele quer se comunicar, dizer quem é. De certo modo, quando a comunicação não ocorre nunca há algo positivo a ser contado; não existe o cultivar de elementos de esperança. Diferentemente, o pichador quer dizer algo, mesmo que seja à noite e às escondidas, e nele há o afeto, o desejo de se amar e ser amado, acolhido, apenas talvez não tenha encontrado a melhor, ou a mais adequada maneira de se comunicar, sem prejudicar outras pessoas. O que desejo dizer é que em algumas pessoas existe uma percepção de um mal absoluto em uma pessoa como um pichador. Só que na verdade há nele alguém com um potencial positivo.
Em outras dinâmicas como um protesto, há uma semente de afeto pois está presente a comunicação em seus gritos de ordem e em seus gestos fortes. A um psicólogo de olhar treinado existem nos movimentos sociais e nos comportamentos inerentes ao seio da cultura um potencial à identificação de vontades, motivações e desejos - aspectos esses fontes do conforto e a dor.
Mais perigoso que um pichador está na ausência do amor, na ausência da comunicação, em não se saber o que se pensa, quando não há o afeto, quando apenas há o silêncio. Isso é incômodo. A não ser que o silêncio também comunique algo, como uma insatisfação, por exemplo.
É por tudo isso que as artes e a cultura são importantes porque elas sempre têm algo a dizer. Falo sobre tudo isso e pego o exemplo do pichador – essa figura execrada socialmente – para apresentar a necessidade de uma visão de compaixão em relação a todos os seres humanos que expressam de um modo ou outro suas carências, suas necessidades de afeto e de serem amadas, de se irmanarem e serem reconhecidas e de também de amar.
Em tudo o que observamos em todas as nossas cidades é a necessidade de existirem políticas sociais, educacionais, científicas, tecnológicas, culturais e absolutamente humanas que gerem oportunidades às pessoas de se expressarem de modos mais elevados, com impecabilidade, com alto valor. Desse modo, não culpe o pichador pelo enfiamento das cidades. O enfeiamento talvez seja mais consequência da falência das políticas públicas que não identificam no pichador o seu potencial humano e não oferecem condições a auto-realização do ser humano.
De um modo geral percebo um potencial positivo na sociedade atualmente a partir do avanço da comunicação na internet, do crescimento da blogosfera. Os blogs, o Twitter, têm muito a dizer. São poderosas ferramentas de comunicação, de disseminação de percepções e afetos. O mundo hoje é melhor, pois à medida que mais se comunica, mais forte é o afeto, mais amor é compartilhado e se ensaia uma sociedade de partilha, onde não necessariamente tudo tem que ser cobrado, precificado. O que parece se construir atualmente é uma economia do afeto engendrando-se assim um novo passo da humanidade a um futuro melhor construído a partir da participação de cada um. Assim, a pichação hoje pode ocorrer de modo diferente, através dos blogs, da comunicação ao mundo elevando-se a consciência e mostrando ao outro o afeto e o desejo em ajudar. Assim, construiremos um mundo mais positivo e tolerante em direção a uma evolução planetária.
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